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segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Dona Pipinha, tio Josué e o filho de Creuza.



O dia 29 de setembro de 2018, ficará pra sempre gravado em minha memória,
talvez a data eu esqueça em poucos dias, mas as emoções vivenciadas neste
dia, são simplesmente inesquecíveis.


Em março deste ano ganhei mais um irmão, Denilson. Sabe aquela coisa
inexplicável, de ligação de alma, foi assim. Ele não foi nascido do ventre de
D. Cleide, a minha mãe, ele é filho de Creuza e José Pinto, nasceu em
Quebrangulo-AL, em 1971. Aliás, foi nesta pequena cidade do agreste
alagoano que vivenciamos as preciosas lições desse dia.


Há poucos meses, o filho de Creuza me confidenciou o “sonho” de voltar a
Quebrangulo, aquele sonho, no momento, me pareceu tão “inalcançável” que
eu resolvi comprar a briga e dar esse presente ao meu irmão.


Depois de algumas tentativas e desistências marcamos a viagem para o
sábado, 29 de setembro. A expectativa era imensa, mas, ainda assim,
crescente. A princípio iríamos junto com as nossas esposas e a Elana,
filha do Denilson; mas elas decidiram ficar. Foi nesse momento que
“contratei um motorista”; convidei o nosso irmão Ronaldo, para nos
acompanhar nessa inesquecível aventura.


Talvez pelo fato de as mulheres não terem ido, conseguimos sair de Jaboatão
dos Guararapes-PE, com pontualidade britânica: Às cinco horas da manhã
pegamos a estrada, e às nove e trinta, depois de uma viagem agradável, cerca
de 300 Km. Graças a Deus, chegamos ao nosso destino.


Havia pouco mais de trinta anos que o filho de Creuza não retornava à sua
cidade, mas ele encontrou sem muitos problemas a casa de D. Pipinha.
A doce senhora que havia segurado Drinha (assim era chamado o Denilson)
ainda bebê, estava sentada no terraço da casa.


Já com a vista cansada por conta dos seus sessenta e poucos anos, e um
pouco assustada com tudo aquilo, ela não tinha ideia do que estava
acontecendo. Denilson entrou no terraço e perguntou: D. Pipinha, a senhora
lembra de mim? É Drinha, filho de Creuza e do finado José Pinto.


Neste momento um turbilhão de doces memórias invadiu o coração de
D. Pipinha enquanto ela, em lágrimas, abriu os braços para ter novamente
junto ao peito o filho da amiga, a quem ajudara a ninar havia quase cinquenta
anos. Drinha se ajoelhou abraçado a D. Pipinha e choraram emocionados por
pouco mais de um minuto. Neste momento, Rosineide, a filha de D. Pipinha
apareceu na porta da cozinha, procurando entender o que estava acontecendo.
Não há palavras que expressem o que se passou neste momento.


Depois disso tentamos descobrir como chegar a casa do tio Josué, mas
ninguém sabia uma forma segura de chegar lá. Foi sugerido que fossemos
“pela linha” (do trem), um percurso de pouco mais de 4 Km, a pé, numa região
desconhecida e sem a certeza de encontrar a casa do tio. Eu estava assustado
com essa opção.


Pouco tempo depois uma amiga de D. Pipinha nos trouxe um moto-taxista, um
daqueles anjos que Deus nos envia quando precisamos encontrar a casa dos
tios que não vemos há mais de trinta anos. Ele assumiu a tarefa de nos
conduzir até a casa do tio Josué, irmão do finado Zé Pinto.


Claro que não chegaríamos lá sem novas emoções. No caminho, o rapaz
parou na “Fazenda 44”, para se certificar com alguém, onde morava o tio Josué.
Seguiu pela rodovia, poucos quilômetros depois entrou numa estrada de barro,
rodou alguns instantes, abriu uma primeira porteira e começou a nos conduzir
no meio do mato.


Abriu a segunda porteira, nos guiou por mais alguns minutos mato a dentro,
já não havia estrada e nós já tínhamos a “certeza” de que, ele talvez nos
levasse à casa de “outro Josué”, mas aquele caminho não nos levaria a casa
do tio. Ele abriu a terceira porteira e continuou mato a dentro.
Junto a uma ladeira, ele pediu que parássemos o carro e disse que dali pra
frente seguiríamos a pé. Eu me assustei.


Ele desceu, de moto, e eu pedi que o filho de Creuza fosse a pé, logo depois
dele. Alguns minutos depois o rapaz volta dizendo que fossemos atrás do
Denilson, pois ele já estava na casa do tio Josué.


Pagamos ao rapaz e ele voltou para a cidade. Nesse momento eu pensei: Meu
Deus, será que vamos achar as três porteiras? Já estava perto das onze horas
da manhã e eu e Ronaldo descemos a ladeira já pensando na galinha guisada
que possivelmente nos seria servida no almoço.


Ao longe já vimos o filho de Creuza ao lado do tio, que sentado no terraço,
trabalhava nas coisas do sítio. Quando chegamos ele nos recebeu muito bem,
exceto pela piadinha com o meu sobrepeso.


Pouco tempo depois Ronaldo já descobriu um pé de laranjas, e dele não se
desligou até a hora em que um percevejo o afastou. O filho de Creuza
encontrou uma foice com um cabo de quatro metros e foi buscar alguns cocos
que nos alimentaram até que D. Anunciada (Esposa do tio), mandou chamar
“os meninos” pra almoçar.


Fiquei muito feliz por três coisas: Por descobrir que o almoço estava pronto,
por perceber que “os meninos” éramos nós, e pelo fato de ver que realmente
comeríamos uma deliciosa galinha com o tempero típico das habilidosas mãos
de uma senhorinha, de um sítio, no agreste. Todo mundo deveria comer uma
galinha dessas pelo menos uma vez na vida.


Depois do almoço, eu e o Ronaldo, deixamos o filho de Creuza conversar por
algumas horas com o tio, cada um encontrou um sofá, e atrapalhamos o sono
um do outro com os nossos breves roncos.


As três horas da tarde presenciamos um gostoso abraço de despedida entre
tio e sobrinho, nos despedimos de todos, agradecemos a acolhida, prometemos
retornar lembrando da galinha, e partimos em direção às três porteiras, na
esperança de retornar em segurança aos nossos lares.


Voltamos por Garanhuns, querendo dar um breve abraço em Bernadete,
“boadrasta” de minha esposa; fomos a Saloá para dar um abraço no Nando,
tio de Ronaldo. Mas esses abraços terminaram não acontecendo.
Não achamos a casa do Nando, nem deu tempo de passar na casa de “Berna”.

Creio que não era dia de Nandos e Bernas, esse dia deveria ficar guardado
em nossas memórias como um dia muito especial, dia de reencontros, de
fortes emoções. Que Deus nos ajude a investir em relacionamentos, para
vivenciarmos o amor em suas formas mais puras e distintas; como o que
vivenciamos neste dia, o dia de D. Pipinha, tio Josué e o filho de Creuza.


Deus nos abençoe sempre e nos dê o privilégio de ver esses três juntos
novamente.