“Responderam-lhe:
Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa.” (At.
16.31.)
Creio numa provisão divina para abençoar as famílias. Acredito que Deus pensa
na família em tudo o que faz. A família é uma instituição divina. Deus proveu
para seu filho Jesus uma família abençoada nesta terra. E fez muitas promessas
incluindo as famílias, portanto, há algo especial que deve ser visto sob este
enfoque e que nos ajudará em nossa caminhada cristã.
Nosso texto base para esta meditação fala sobre salvação para toda a família, e
acredito que há muita coisa que precisa ser esclarecida por trás deste
conhecidíssimo versículo bíblico. Tenho visto atitudes erradas na vida de
muitos cristãos e, geralmente, elas são oriundas de uma compreensão errada (ou
da falta dela) deste texto.
Este texto não é uma promessa de que Deus salvaria nossa família sem que nada
precisássemos fazer. Não fala de um processo em que, automaticamente, toda uma
família se salva só porque um foi salvo. A salvação não se transfere, é
pessoal. Este versículo nos mostra uma provisão divina para a família, e que
quando um familiar é salvo passa a ser a “porta de entrada” do Reino de Deus
para a sua família. Tem muito crente que sequer evangeliza os seus, nunca
intercede por sua família, mas quando indagado sobre o estado deles responde: “Não
me preocupo porque tenho uma promessa da salvação de minha família...”
Não acredito que este texto seja uma promessa, embora creia que deva inspirar
nossa fé e nos levar a uma atitude correta. Tenho este posicionamento pelas
seguintes razões:
1) Era uma palavra pessoal;
2) Não concorda com outros textos sobre a salvação para família;
3) Não concorda com a doutrina bíblica da salvação.
Permita-me argumentar porque...
Uma palavra pessoal
Esta palavra foi dada por Paulo a um carcereiro da cidade de Filipos, onde o
apóstolo estava preso por ter expulsado um espírito maligno de uma jovem que
era adivinha. O ocorrido a impediu de continuar adivinhando, e a falta de
lucros gerada por esta libertação fez com que os senhores dessa moça lançassem
Paulo e seu companheiro Silas na prisão.
O que Paulo falou a este homem foi uma palavra pessoal sob uma ação específica
do Espírito Santo. Observe o texto todo e estes detalhes aparecerão: “E,
depois de lhes darem muitos açoites, os lançaram no cárcere, ordenando ao
carcereiro que os guardasse com toda a segurança. Este, recebendo tal ordem,
levou-os para o cárcere interior e lhes prendeu os pés no tronco. Por volta da
meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais
companheiros de prisão escutavam. De repente, sobreveio tamanho terremoto, que
sacudiu os alicerces da prisão; abriram-se todas as portas, e soltaram-se as
cadeias de todos. O carcereiro despertou do sono e, vendo abertas as portas do
cárcere, puxando da espada, ia suicidar-se, supondo que os presos tivessem
fugido. Mas Paulo bradou em alta voz: Não te faças nenhum mal, que todos aqui
estamos! Então, o carcereiro, tendo pedido uma luz, entrou precipitadamente e,
trêmulo, prostrou-se diante de Paulo e Silas. Depois, trazendo-os para fora,
disse: Senhores, que devo fazer para que seja salvo? Responderam-lhe: Crê no
Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa.” (At. 16.23-31.)
Este acontecimento se deu por volta da meia-noite, logo, estava escuro. A
certeza disto é que o carcereiro pediu luz antes de ir até Paulo e Silas, o que
nos mostra que nem ele e nem tampouco os dois evangelistas tinham luz. O texto
sagrado ainda revela que ninguém saiu do cárcere, embora o carcereiro tenha
chegado a pensar que todos já tivessem fugido.
Então, aquele homem, que sabia que ia pagar com a própria vida pela vida dos
presos que (achava ele) haviam escapado, decide se matar e chega a puxar a
espada para fazê-lo, mas Paulo brada para que ele não faça aquilo.
Como é que Paulo, no escuro e sem enxergá-lo por estarem em cômodos diferentes,
sabia do que estava acontecendo?
Temos uma palavra de conhecimento, dada pelo Espírito Santo revelando uma
condição específica de um homem específico. Não sabemos tudo o que Deus mostrou
ao apóstolo, mas é neste contexto que ele afirma ao carcereiro: “Crê no
Senhor Jesus e serás salvo tu e a tua casa”. E o que acontece em seguida?
“Depois, trazendo-os para fora, disse: Senhores, que devo fazer para que
seja salvo? Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa.
E lhe pregaram a palavra de Deus e a todos os de sua casa. Naquela mesma hora
da noite, cuidando deles, lavou-lhes os vergões dos açoites. A seguir, foi ele
batizado, e todos os seus. Então, levando-os para a sua própria casa, lhes pôs
a mesa; e, com todos os seus, manifestava grande alegria, por terem crido em
Deus.” (At. 16.30-34.)
Aquele homem tirou Paulo e Silas da cadeia e os levou para casa. A Bíblia diz
que ele aproveita para cuidar das feridas daqueles homens, mas eles foram lá
para pregar a palavra de Deus e conseguiram levar todos a Cristo e batizá-los!
O que fez o carcereiro acreditar tanto em Paulo e Silas? Seguramente não foi só
o terremoto, mas a revelação que ele recebeu depois do terremoto.
Diante de tudo isto não posso dizer que as palavras de Paulo a este homem se
apliquem a todo crente. Quando o navio em que Paulo viajava para Roma estava
para naufragar, ele disse de antemão: “Contudo, é necessário irmos dar numa
ilha”. Come ele sabia disto? Porque Deus lhe havia revelado isto. Mas não
quer dizer que todo crente que viesse a naufragar iria dar numa ilha. Era uma
palavra específica para um momento específico. Do mesmo modo, o que Paulo falou
para aquele carcereiro não era uma promessa para todo crente, era uma revelação
específica do que aconteceria na família daquele homem.
Outros textos sobre família
Há vários outros textos bíblicos que entrariam em conflito se tentamos dizer
que esta palavra é uma promessa para todo crente. Veja alguns deles: “Supondes
que vim para dar paz à terra? Não, eu vo-lo afirmo; antes, divisão. Porque,
daqui em diante, estarão cinco divididos numa casa: três contra dois, e dois
contra três. Estarão divididos: pai contra filho, filho contra pai; mãe contra
filha, filha contra mãe; sogra contra nora, e nora contra sogra.” (Lc.
12.51-53.)
Jesus disse que veio trazer divisão numa casa. Isto mostra que quando alguém
decidisse segui-lo, outros familiares se levantariam contra, não aceitando a
decisão. E haveria problemas... isto não nos faz pensar que o que Paulo disse
ao carcereiro fosse uma promessa para todo cristão, faz?
O Senhor ensinou claramente que seria necessário ter a disposição de negar os
familiares para mantê-lo em primeiro lugar: “Se alguém vem a mim e não
aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua
própria vida, não pode ser meu discípulo.” (Lc. 14.26.)
Além do ensino de Jesus, vemos o mesmo apóstolo Paulo (que fez aquela
declaração ao carcereiro) falando sobre a salvação dos demais familiares como
uma incógnita: “Pois, como sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? Ou, como
sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?” (1Co. 7.16.)
Ora, se Paulo acreditasse que aquilo que ele afirmou ao carcereiro de Filipos
fosse uma promessa a todo crente, não falaria assim, neste tom de incerteza!
Mas a verdade é que não se trata de uma promessa a todos, embora revele uma
intenção do coração de Deus.
Não estou tentando semear incredulidade em quem crê na salvação dos seus
familiares. Precisamos mesmo lutar em favor deles! Mas o fato é que eles não
serão salvos somente porque você, como familiar deles, foi. A condição para a
salvação de seus familiares é a mesma que de qualquer outro pecador: precisam
se arrepender e crer em Jesus.
Escrevi este artigo porque muitos crentes não fazem nada pela sua família e
ficam confessando Atos 16.31 como se fosse uma solução a se estabelecer
automaticamente. Precisamos ser práticos. O que Paulo e aquele carcereiro
fizeram? “E lhe pregaram a palavra de Deus e a todos os de sua casa. Naquela
mesma hora da noite, cuidando deles, lavou-lhes os vergões dos açoites. A
seguir, foi ele batizado, e todos os seus. (At. 16.32-33.)
Depois de saber que Deus queria salvar sua família, o homem foi levar o
Evangelho para eles! Foi por isso que creram e se batizaram. Tem muita gente
que não prega a Palavra para os seus familiares e acha que eles vão acordar
salvos alguma manhã destas. Não é assim que funciona. Temos que nos mexer.
Lutar por eles. Interceder por eles. Dar bom testemunho.
Crendo no plano de Deus para a família
Quando o apóstolo Pedro sobe a Jerusalém e é indagado do motivo que o levou a
entrar na casa de Cornélio, um gentio, dá uma explicação de um detalhe da
mensagem que o centurião recebera do anjo que lhe apareceu. Este detalhe é
importantíssimo para nós porque nos mostra como Deus trata com as famílias e
tem um plano para elas.
“E ele nos contou como vira o anjo em pé em sua casa e que lhe dissera:
Envia a Jope e manda chamar Simão, por sobrenome Pedro, o qual te dirá palavras
mediante as quais serás salvo, tu e toda a tua casa.” (At. 11.13-14.)
Embora não haja uma promessa específica de que cada família onde alguém se
converter todos virão a ser salvos, sabemos que este é o desejo de Deus. Deus
deseja que todos se salvem (1Tm. 2.5). Ele não deixou ninguém de fora da
provisão de salvação, mas mesmo assim, sabe que muitos rejeitarão seu presente,
a ponto de também declarar em sua Palavra que “a fé não é de todos”
(2Ts. 3.2).
Desde o princípio vemos Deus incluindo as famílias em suas promessas de
bênçãos, salvação e livramento. Foi assim com Noé: “Disse o SENHOR a Noé:
Entra na arca, tu e toda a tua casa, porque reconheço que tens sido justo
diante de mim no meio desta geração.” (Gn. 7.1.)
Também foi assim com Ló, quando Deus anunciou pela boca dos anjos que haveria
de destruir a cidade; deu oportunidade para que toda a família escapasse: “Então,
disseram os homens a Ló: Tens aqui alguém mais dos teus? Genro, e teus filhos,
e tuas filhas, todos quantos tens na cidade, faze-os sair deste lugar; pois
vamos destruir este lugar, porque o seu clamor se tem aumentado, chegando até à
presença do SENHOR; e o SENHOR nos enviou a destruí-lo.” (Gn. 19.12-13.)
Deus tem um plano para as famílias e deseja abençoá-las. Esta foi sua promessa
a Abraão: (...) “Em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gn.
12.3b.)
Mas porque Deus deseja isto não quer dizer que vá acontecer por si. Os genros
de Ló não o levaram a sério (Gn. 19.14) e acabaram perecendo em Sodoma, embora
o Senhor quisesse ter tirado os dois de lá.
Não perder a visão familiar
Onde está o ponto de equilíbrio? Não está em achar que a família será salva por
si e nem tampouco em deixar de ter esperança pelos seus. É entender a visão
familiar na Palavra e batalhar para que isto aconteça. Creio que Deus queira
que cada um de nós possa encher o peito e afirmar com alegria o mesmo que
Josué: (...) “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor.” (Js. 24.15.)
Tem gente que quer ganhar o mundo para Jesus e sequer se importa com a sua
casa. Isto é uma violação de claros mandamentos bíblicos! Veja o que Paulo
falou a Timóteo no tocante a isso: “Ora, se alguém não tem cuidado dos seus
e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o
descrente.” (1Tm. 5.8.)
O cuidado pela família não envolve apenas o sustento natural, que é o contexto
desta afirmação, mas também a preocupação com a condição espiritual. É
requisito para a liderança ter uma família exemplar, ministrada no Senhor (1Tm.
3.4-5).
Os projetos que envolvem a salvação da nossa família devem ser tomados como
prioridade. É preciso que nos empenhemos em lutar pela salvação da nossa casa.
Isto envolve uma postura de esperança e um posicionamento de bom testemunho.
Mediante um bom testemunho, familiares podem ser ganhos para Cristo. Sem ele,
muitos nunca se converterão. Pedro escreveu sobre isto: “Mulheres, sede vós,
igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não
obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de
sua esposa ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor.” (1Pe.
3.1-2.)
Para o casal cristão, o desafio são os filhos. Eles também devem ser ganhos e
discipulados por seus pais: “E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à
ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor.” (Ef. 6.4.)
Viva sua vida em Deus de forma frutífera. E comece a frutificar pela sua
própria casa. Que o Senhor lhe dê graça para pelejar pelos seus e levá-los a
uma experiência genuína com Cristo!
***********************************************
Artigo de autoria do Pr. Luciano Subirá, com o titulo original:
SALVAÇÃO PARA A FAMÍLIA.