“Isto diz o primeiro e o último, que foi morto e reviveu: Conheço as tuas obras e tribulação e pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que dizem ser judeus, e não o são, porém são sinagoga de Satanás. Não temas o que hás de padecer. Eis que o Diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. O que vencer, de modo algum sofrerá o dano da segunda morte.” (Ap 2.8-11.)
Esmirna significa mirra, que é a resina perfumada produzida pela árvore de mesmo nome ao ser ferida. Seu perfume é aprazível, mas seu sabor é amargo. Era ingrediente do óleo da unção, na época de Moisés (Êx 30.23) e um dos presentes levados pelos magos ao menino Jesus (Mt 2.11). A substância tornou-se símbolo de amargura e sofrimento.
O nome daquela cidade da Ásia Menor era bastante adequado à realidade da igreja que ali se encontrava: um povo sofredor que, em meio às aflições, exalava o bom perfume de Cristo.“Conheço as tuas obras, tribulação e pobreza”Hoje, muitas pessoas têm um conceito fantasioso sobre o cristianismo, como se este garantisse um mar de rosas ou um paraíso na terra. Aquela igreja, como tantas outras, conhecia muito bem o trabalho árduo, a tribulação e a pobreza, embora fosse espiritualmente rica.
A igreja de Laodicéia, ao contrário, era materialmente rica e espiritualmente miserável. A riqueza material não é, em si mesma, maligna, mas o erro está em colocá-la em evidência, tornando-a prioritária, como se o Evangelho estivesse a ela vinculado. O Senhor mandou dizer aos cristãos de Esmirna: “Não temas o que hás de padecer”. Além de tudo o que aquela igreja tinha passado, ainda viriam mais tribulações. Contudo, em todas elas havia um propósito divino.“O Diabo lançará alguns de vós na prisão”No meio da carta, existe menção a um personagem indesejável: Satanás. Gostaríamos que seu nome não estivesse ali, assim como não queremos considerar a possibilidade de sua interferência ou intromissão em nossas vidas.
Alguns irmãos imaginam estar muito distantes da ação do adversário. Entretanto, somos soldados, estamos numa guerra espiritual, e a proximidade do inimigo não nos deve parecer estranha. O Diabo lançaria alguns daqueles cristãos na prisão. Pode parecer incrível que ele possa fazer algo assim na vida do crente, mas, nesse caso, o fator determinante é a permissão divina em função dos seus propósitos soberanos. O texto não está se referindo à prisão espiritual, mas natural.
Naquele tempo, o imperador romano estava perseguindo a Igreja, prendendo os cristãos e matando muitos deles. Era importante saber que, por trás daqueles fatos e de seus protagonistas, havia uma realidade espiritual dinâmica. “Para que sejais tentados”A expressão “para que” indica um propósito. Nada acontece por acaso na vida do cristão. Muitas coisas vêm como conseqüência dos nossos atos, outras ocorrem porque Deus tem um objetivo por meio delas. Nesse caso específico, o propósito seria a tentação. Deus permite uma situação adversa para que a tentação ocorra, pois ela é necessária na vida do crente. Afinal, se Cristo foi tentado, por que nós não haveríamos de ser? Gostaríamos que todas as situações desagradáveis fossem evitadas, e até oramos por isso.
Entretanto, muitas dessas orações não serão atendidas porque a tentação precisa vir. Para que a nossa vitória se manifeste, precisamos enfrentar tentações e lutas. Isto é inevitável. Como a prisão poderia se tornar local de tentação? Aqueles cristãos presos poderiam ser acometidos por pensamentos, reflexões e questionamentos a respeito da fé. Alguns deles perguntariam: “Por que Deus permitiu isso? Eu sou filho dele, sou fiel, sou servo do Senhor”. Não é o que acontece conosco? Quantos questionamentos vêm à nossa mente quando estamos debaixo da tribulação? Nesse momento, somos tentados a duvidar da presença de Deus e do seu amor para conosco. Nos piores momentos, somos tentados a negar a nossa fé e a blasfemar contra Deus.
Assim foi a tentação de Jó. A certa altura dos fatos, sua esposa lhe disse: “Amaldiçoa o teu Deus e morre”. Aquela foi uma sugestão satânica nos lábios da mulher.“Tereis uma tribulação de dez dias”Algumas situações têm prazo determinado. É uma realidade bíblica. Como exemplos, podemos citar os 7 anos de fome no Egito (Gn 41.30), os 400 anos de escravidão dos israelitas (Gn 15.13) e os 70 anos de cativeiro babilônico (Jr 25.11). Deus determinou o tempo daquelas tribulações. Ainda que povo orasse, jejuasse e expulsasse demônios, o problema permaneceria até que se cumprisse o prazo estipulado por Deus. Não podemos fazer uma regra nesse sentido, porque muitos males podem ser resolvidos imediatamente, conforme vemos em diversos episódios bíblicos. Entretanto, não devemos ignorar a possibilidade dos prazos determinados, porque esta será a explicação para algumas orações não atendidas.
Aquela igreja poderia orar, mas a tribulação duraria dez dias, nem mais nem menos. Devemos orar sempre, mas precisamos também pedir o discernimento ao Senhor para não tomarmos atitudes e conclusões precipitadas. A tribulação continuará até que tenha produzido os resultados para os quais ela foi permitida pelo Senhor. Assim como Jesus não podia descer da cruz antes de sua morte, também nós não podemos interromper algumas situações que nos sobrevêm. A lagarta não pode sair do casulo enquanto não se completar sua metamorfose. Interferir no processo seria um desastre fatal.
“Não temas”Precisamos confiar no Senhor, sabendo que ele está conosco. Mesmo que seja necessário passar pelo vale da sombra da morte, estaremos acompanhados pela bondade e pela misericórdia do Pai. Depois da tribulação, encontraremos refrigério e descanso para as nossas almas.
Pr Anísio R. Andrade.
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